25 setembro 2025

Não existe perdão incondicional

Esta deveria ser uma questão óbvia só de olhar para a cruz do Calvário. Para que Deus, pela graça, pudesse salvar pecadores, a ofensa dos pecadores precisou ser paga por Cristo na cruz. Conforme Paulo, em Cristo Deus demonstrou sua justiça, a fim de ser justo e justificador daquele que tem fé em Cristo Jesus” (Rm 3.26).

 

Perceba, então, que a primeira condição para haver perdão foi o sacrifício substitutivo de Cristo. A outra, que decorre desta, é que sem crer na obra de Cristo, não há salvação. Foi isso que Paulo afirmou quando escreveu aos colossenses: “[...] tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos [...] vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os vossos delitos (Cl 2.12,13).

 

Louis Berkhof ensina: “Visto que Cristo satisfez a condição da aliança das obras, o homem pode agora colher o fruto do acordo original pela fé em Jesus Cristo. [...] que satisfez as exigências da lei e pode dispensar a bênção da vida eterna” (Teologia Sistemática, 2012).

 

Como afirma o salmista, o Senhor é pronto a perdoar, e abundante em benignidade para todos os que te invocam (Sl 86.5 – ACF). Isto quer dizer que para que haja perdão é preciso invocar a Deus. Paulo mostra esta condição aos romanos: Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Rm 10.9). Foi neste contexto que ele afirmou que Deus é “rico para com todos os que o invocam. Porque: todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Rm 10.12-13).

 

Diante disso, fica evidente que não há perdão da parte de Deus sem arrependimento, como bem afirma Jay Adams: “o perdão de Deus repousa sobre condições inconfundivelmente claras” (De perdoado a perdoador, 2015).

 

É fundamental compreender como é o perdão do Senhor para com os seus filhos. Geralmente, os cristãos que frequentam igrejas bíblicas compreendem bem esta questão, o que os leva a rejeitar o universalismo, que nada mais é que a crença de que no fim das contas Deus vai perdoar a todos, independentemente de se arrependerem ou não. Ainda assim, muitos mantêm uma compreensão equivocada sobre o perdão que os crentes devem conceder a seus ofensores.

 

De imediato é preciso lembrar que o perdão do Senhor é o modelo para o perdão dos crentes. Paulo escreveu aos efésios: “Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou(Ef 4.32).

 

Assim, o perdão concedido pelos crentes também é condicionado ao arrependimento do ofensor. Esta é a razão de Jesus instruir os discípulos dizendo, “se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe” (Lc 17.3). Se fosse ordenado perdoar, mesmo sem o arrependimento do ofensor, Jesus não teria estabelecido que ele fosse procurado com duas ou três testemunhas, levado à igreja em caso de persistência, e por fim tratado como gentio e publicano se permanecesse impenitente (Mt 18.15-17).

 

Perdoar sem arrependimento esvazia e torna inútil o processo de disciplina estabelecido pelo Senhor Jesus Cristo. Agora, reflita: se o final desse processo leva o ofensor a ser tratado como gentio e publicano, ou seja, pessoas cujos pecados não foram perdoados por Deus, como um cristão poderia declarar perdão a alguém ímpio que causou mal à sua família? Isso simplesmente não é bíblico. Ainda assim, recentemente, muitos cristãos celebraram como virtude a declaração de perdão da esposa de Charlie Kirk ao assassino do seu marido.

 

Não me entenda mal! Não estou insinuando que cristãos devem manter o coração amargo diante de males cometidos contra eles por pessoas que não se arrependeram. Como servos de Deus, cristãos devem imitá-lo e estar sempre prontos a perdoar, mas isto não deve ocorrer sem que haja reconhecimento pelo ofensor. Os cristãos devem orar por seus inimigos e rogar ao Senhor que os leve ao arrependimento. Se tiverem oportunidade, devem amar os inimigos dando-lhes o que comer e o que beber, não se deixando vencer pelo mal, mas vencendo o mal com o bem, como ordenou Paulo em Romanos 12.20-21. Eles não devem se vingar, mas dar “lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor” (Rm 12.19).

 

Contudo, isso não significa perdoar aqueles que não reconhecem suas faltas. Em alguns casos, ainda ouvirão respostas desafiadoras, como: “e quem disse que estou pedindo perdão?”.

 

Alguns poderiam perguntar: Perdoar não seria imitar a Jesus, que na cruz perdoou os que o entregaram à morte (Lc 23.34)? Na verdade, este texto prova o que mencionei anteriormente: os cristãos devem orar por seus inimigos. Jesus não estava perdoando diretamente, mas rogando ao Pai que os perdoasse.

 

Durante seu ministério Jesus afirmou que o Pai sempre o ouve (Jo 11.42) e não foi diferente desta vez. Em Atos, por ocasião do Pentecostes, Pedro pregou um poderoso sermão. Em determinado ponto ele acusou: “sendo este [Jesus] entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos” (At 2.23). A resposta do Pai ao Filho se vê no final do sermão: “Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: que faremos, irmãos? Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2.37-38).

 

Curiosamente, quando foi martirizado, Estêvão imitou o seu Senhor e rogou a Deus que não imputasse o pecado de seu apedrejamento a seus algozes. Você lembra quem era um deles? Paulo, sob cujos pés foram deixadas as roupas de Estêvão e que mais tarde veio à fé (At 7.60-8.1). Paulo reconheceu sua falta ao perseguir a igreja (1Co 15.9) e, diante dos judeus, confessou ter consentido com a morte do diácono (At 22.20). De fato, Estêvão teve sua oração atendida!

 

Algo que contribui para a confusão sobre perdoar, independentemente do arrependimento alheio é um “evangelho autocentrado”, que ensina que quem não perdoa causa males a si mesmo. Entretanto, quando alguém decide perdoar motivado apenas por não se prejudicar ao guardar mágoa no coração, demonstra um coração egoísta, e tal perdão é pecaminoso. O pecado é abominável não por causa das consequências em nós, mas pela afronta ao Deus Santo. Como ensina Jay Adams, “Deus não está interessado no perdão como um fim em si mesmo, ou como uma técnica terapêutica que beneficia o que exerce o perdoar. Deus quer que a reconciliação aconteça, e isso só pode ser resultado de arrependimento” (De perdoado a perdoador, 2015).

 

Você não é mais santo que Deus! Se ele coloca condições para o perdão, não queira fazer algo que você julga ser melhor. Mantenha um coração pronto a perdoar, confronte os irmãos que pecaram contra você e ore por aqueles que não têm a Cristo para que, arrependidos dos seus pecados contra o Senhor, arrependam-se também do que fizeram contra você.

 

Somente desta maneira, há verdadeiro perdão.


24 setembro 2025

Lembre-se: você faz parte de um corpo

Em tempos de individualismo, muitos crentes que assumiram o modo de pensar deste mundo precisam se lembrar desta preciosa verdade bíblica ensinada por Paulo aos romanos: “Porque assim como num só corpo temos muitos membros, mas nem todos os membros têm a mesma função, assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros” (Rm 12.4-5).

 

Não é incomum ter na igreja pessoas que dizem: “ninguém tem nada a ver com a minha vida”, “ninguém paga as minhas contas para querer se intrometer na minha vida”, “eu não devo nada a ninguém”, e outras semelhantes.

 

Crentes que pensam assim precisam lembrar urgentemente que o ensino de Paulo acerca de sermos membros de um só corpo é a sequência da sua exortação em Rm 12.2: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. É preciso abraçar um modo de pensar bíblico, a fim de rejeitar as ideias egoístas deste mundo.

 

A figura do corpo é usada também por Paulo na sua carta aos coríntios, ele afirma que Deus coordenou tudo “para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros” (1Co 12.25).

 

A história da derrota de Israel diante da cidade de Ai, no livro de Josué, ilustra bem o princípio da responsabilidade com o corpo. Após derrotar a poderosa cidade de Jericó, confiando plenamente no Senhor, os espias foram enviados a Ai e voltaram com um relatório bem otimista.

 

A sugestão que deram a Josué foi para que não enviasse todo o exército, pois a cidade não daria conta de fazer frente a Israel. Há um contraste importante a ser notado, quando você compara este episódio ao momento em que Moisés enviou os doze espias para ver a terra, em Números 13. Naquela ocasião, Deus havia dito que daria a terra, os espias verificaram que era, de fato, uma boa terra, mas dez deles desanimaram o povo dizendo que não dariam conta de vencer os inimigos, pois eram poderosos.áa hhhfaldjfalçdjfasjsçllkjçljjjjjjpojppiugfgggg

 

Em Números o povo não confiou no Senhor. Já em Josué, o povo estava muito confiante em si mesmo e viu o povo bater em retirada diante de uma pequenina cidade. A razão? Um homem, Acã, tomou dos despojos e escondera debaixo de sua tenda. Por causa de um homem, pereceu todo o povo.

 

Por que todo o povo pereceu, visto que o pecado foi de um único homem? Você precisa lembrar que em Js 6.18, após condenar a cidade de Jericó, Deus disse ao povo: “tão-somente guardai-vos das coisas condenadas, para que, tendo-as vós condenado, não as tomeis; e assim torneis maldito o arraial de Israel e o confundais”. Perceba que a culpa da transgressão é colocada sobre todo o povo de Israel, tanto no comentário do narrador em Js 7.1: “Prevaricaram os filhos de Israel nas coisas condenadas”, quanto na resposta de Deus a Josué em 7.11: “Israel pecou, e violaram a minha aliança, aquilo que eu lhes ordenara, pois tomaram das coisas condenadas, e furtaram, e dissimularam, e até debaixo de sua bagagem o puseram”.

 

O pecado de um membro do corpo traz consequências diretas para ele e, muitas vezes, consequências indiretas sobre todo o corpo. O povo de Israel inteiro foi derrotado por causa do pecado de Acã, pois Deus estava exigindo santidade de todo o povo. Isso implica o cuidado de uns para com os outros. Se Deus exigisse somente santidade pessoal, a preocupação de muitos seria apenas consigo mesmos, contudo, como o Senhor exige santidade de todo o povo, deve haver preocupação mútua, instrução e aconselhamento mútuo (Cl 3.16 ), admoestação mútua (Rm 15.14), suporte mútuo (Ef 4.2), sujeição mútua (Ef 5.21), sinceridade mútua (Cl 3.9), consolo mútuo (1Ts 4.18), confissão mútua de pecados (Tg 5.16), ou seja, deve haver amor de uns para com os outros (Jo 13.34,35; Jo 15.12,17; Rm 12.10; Rm 13.8; 1Ts 4.9; Hb 10.24; 1Pe 1.22; 1Jo 3.23; 1Jo 4.7, 11-12; 2Jo 5).

 

Os mandamentos bíblicos direcionados a “uns aos outros” só podem ser colocados em prática quando há um senso de corpo. Nas palavras de Jay Adams, “não há lugar para ‘lobos solitários’. A maneira de Deus é trabalhar através de membros unidos para serviço e edificação mútua. Você não pode encontrar esses fatores necessários em nenhum outro lugar, exceto na Igreja de Deus” (Day by day along the way).

 

A igreja não é um bom lugar para quem quer estar só! A unidade da Igreja deve refletir a própria unidade intratrinitária, como pediu o Senhor Jesus ao Pai em sua oração sacerdotal dizendo, “não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim” (Jo 17.20-23).

 

Abandone, portanto, o pensamento egoísta deste mundo e usufrua a bênção de pertencer ao corpo que tem como Cabeça o glorioso Redentor, o Senhor Jesus Cristo.

02 setembro 2025

Viva conforme o seu chamado


Quanto Deus anunciou ao povo as bênçãos decorrentes da obediência, em Deuteronômio 28.9, afirmou: “O Senhor te constituirá para si povo santo, como te tem jurado, quando guardares os mandamentos do Senhor, teu Deus, e andares nos teus caminhos”.

Um dos sentidos da palavra santo é “alguém separado do mundo e consagrado a Deus” (Easton’s Bible Dictionary). É esta a ideia de santo no texto citado anteriormente.

Note que a santidade está ligada à prática dos mandamentos do Senhor. Isto está em conformidade com a oração sacerdotal de Jesus nos evangelhos, em que ele rogou ao Pai: “santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17).

Já em Deuteronômio 4, Moisés exortou o povo nestes termos: “Eis que vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o Senhor, meu Deus, para que assim façais no meio da terra que passais a possuir. Guardai-os, pois, e cumpri-os, porque isto será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos que, ouvindo todos estes estatutos, dirão: Certamente, este grande povo é gente sábia e inteligente. Pois que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o Senhor, nosso Deus, todas as vezes que o invocamos? E que grande nação há que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que eu hoje vos proponho?” (5-8).

Davi afirma que “a lei do Senhor é perfeita e restaura a alma; o testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos símplices” (Sl 19.7).

Quando você é salvo pelo Senhor, é separado para viver de modo agradável perante ele. Isto implica rejeitar o padrão deste mundo, não se conformando a ele, mas transformando-se a cada dia pela renovação da mente, como Paulo ordena em Rm 12.2.

Infelizmente, há crentes que, mesmo depois de terem sido regenerados, assumem padrões deste mundo e vivem de forma semelhante aos ímpios.

Não foi para isso que Deus separou você! De nada adianta ter sido separado, se você insiste em viver como os que não conhecem a Deus.

Lembro-me de um exemplo que pode ilustrar essa incoerência. Após a aprovação da lei dos resíduos sólidos, em 2010, muitos começaram a praticar a reciclagem. Havia lixeiras específicas para plástico, papel, vidro e metal. Aqueles que eram conscientes separavam corretamente o lixo; contudo, em alguns lugares, os coletores misturavam tudo novamente. O esforço de quem separava era desprezado por quem recolhia.   

Mudando o que tem de ser mudado, há muitos que ignoram o trabalho do Espírito que santifica o povo de Deus e voltam às práticas mundanas, por conta dos desejos do seu coração.

Por amor ao mundo, desprezam e desobedecem a seu Redentor. A estes cabe a exortação de Tiago 4.4: “Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus”.

A exortação é séria, pois o homem era incapaz de cumprir a lei e, por isso, o Filho de Deus se fez homem para cumprir plena e cabalmente a lei em lugar do seu povo a fim de justificar pela fé todo aquele que nele crê.

Isso significa que todos os que foram libertos por Cristo têm agora condições de lutar contra o pecado, pois o Senhor, por sua graça, lhes deu a Palavra e também o Espírito que ilumina o entendimento e capacita a cumpri-la para a glória de Deus.

Desta maneira, se você não tem buscado uma vida santa, precisa se arrepender, buscar o perdão do Senhor e viver na prática da justiça.

O Senhor fez de você povo santo. Viva em conformidade com sua identidade, para a glória do seu Salvador.